Saturday, May 31, 2008

Pergunta e Resposta - Direito do consumidor na Irlanda

"Pode me informar como funciona a questão da possível devolução do valor do produto? Qual o prazo máximo? Eu comprei um palm que deu uma bronquinha e não estou disposto a dar entrada na garantia, pois o mesmo nao me agradou tanto..."

Pesquisando a Agência Nacional dos Consumidores da Irlanda constatei o seguinte:

Se o produto comprado apresentar defeito você tem direito a tê-lo consertado, substituído ou receber o seu dinheiro de volta.

Se a loja oferecer para consertá-lo, o conserto deve ser permanente [ou seja, o produto não deve apresentar o mesmo problema no futuro]. Se a loja oferecer a devolução do dinheiro, isso pode ser feito em dinheiro ou cheque, ou (quando apropriado) eles podem devolver o dinheiro para o seu cartão de crédito. Se, ao invés disso, eles lhe oferecerem uma nota de crédito ou voucher, é seu direito recusá-lo e pedir a devolucão do dinheiro [uma vez que com a nota de crédito você só pode utilizá-la na loja onde comprou o produto que deseja devolver].

Se você não estiver satisfeito com a oferta deles você tem o direito de pedir uma solução alternativa, e entrar na justiça se a oferta final não for do seu agrado. Você tem a opção de levar o seu caso à Corte de Pequenas Causas (Small Claims Court), que lida com causas de até 2.000 Euros propostas por um consumidor contra uma loja. O requerimento para tanto custa 9 Euros.

Além disso o site da agência ainda explica que:

- Você não tem nenhum direito sob as leis dos consumidores se você simplesmente mudar de idéia sobre querer [continuar] com o produto. Contudo, algumas lojas vão lhe oferecer a troca [do produto] como gesto de boa vontade.

- Você deve devolver o produto com defeito à loja assim que possível. Se você esperar um longo período isso pode indicar que você aceitou o produto e o defeito.

- A loja pode lhe pedir prova de compra, mas não precisa ser necessariamente o recibo da loja. Você pode apresentar o extrato do cartão de crédito ou qualquer outra documentação que comprove que o produto foi comprado naquela determinada loja.

A legislação irlandesa não estipula prazo para a devolução de produtos com defeito, mas é responsabilidade do consumidor agir de pronto nesse caso. Há prazo apenas para troca de produtos sem defeito e ele é de 28 dias.

Happy Go Lucky

Happy Go Lucky é o nome do novo filme do Mike Leigh que assistimos ontem. O título do filme significa alegre ou despreocupada, o que caracteriza bem a personal principal do filme, a Puppy. Ela varia entre engraçada e idiota. Esse filme tem todas as características daqueles mostrados na Academia de Tênis em Brasília, onde eles passam filmes não-comerciais - a maioria europeu. Só recomendo para quem não fica irritado em gastar dinheiro com filme não-convencional, pois esse nem chega a ter uma história. É mais uma sequência de cenas do dia-a-dia.


Quem tem curiosidade em ver um filme cult britânico não-depressivo devia assisti-lo. Ele mostra a combinação maluca de roupas que algumas mulheres usam para ir para a balada e, mais uma vez, o quão comum é dividir apartamento no oeste europeu. Digo "mais uma vez", pois acredito que todo mundo viu Notting Hill e lembra-se do apartamento que o personagem do Hugh Grant dividia com o Spike, aquela figura escocesa muito estranha que foi fotografada só de cueca na porta do apartamento quando, na verdade, o alvo era a personagem da Julia Roberts, Anna Scott.

Friday, May 30, 2008

Missa de corpo presente foi coisa de cinema....

Hoje fomos à missa de corpo presente deste senhor, que era pai da acordeonista da banda em que Pete toca. A missa não deixou a desejar à dos filmes irlandeses que via quando estava no Brasil. Teve até padre fazendo piadas, além, é claro de música ao vivo. Um poema com parte da letra da música Turn! Turn! Turn! do The Birds, que fala que na vida há hora para nascer, morrer foi lido. A igreja estava praticamente lotada de pessoas que foram dar o seu adeus e acompanhá-lo até o cemitério. Foi difícil esconder a minha latinoamericanidade e não chorar.

Toda semana o jornal local Galway Advertiser publica mensagens com fotos lembrando entes queridos que completaram aniversário de morte ou vida. As mensagens são tocantes. A que segue abaixo é para o senhor em questão devido ao seu falecimento.

Wednesday, May 28, 2008

Prova de Amor de uma Chocólatra

Enquanto digito este post estou saboreando o primeiro brigadeiro feito na Irlanda. É surpreendente que eu esteja na Irlanda há esse tempo todo e tenha comprado leite condensado para fazer brigadeiro antes.

Acima de "Condensed Milk" vem escrito "Carnation" na lata redonda, como a vendida no Brasil pela Nestlé. A diferença é que ao invés de dividir o brigadeiro em duas tigelas, para eu comer uma mais tarde, a segunda tigela é para o Pete. Nunca havia dividido tanto brigadeiro assim com ninguém. O máximo que já fiz foi dividir 1/4 com a minha sobrinha Cynthia ou algumas colheredas com quem sabe fazer um ótimo brigadeiro: minha mãe.

Um dos amigos do Pete viu uma receita de brigadeiro, no jornal, na época do natal, e pediu para eu fazer, em troca de uma garrafa de licor, mas acabei nunca fazendo................para ele.

Sunday, May 25, 2008

Suspeita, Choro, Terror e Grito

Este fim de semana foi só trabalho. Na sexta de manhã acompanhei uma menina asmática. O hospital me chamou novamente no sábado, às 18h30, porque acharam muito estranha a reação da menina, que ao invés de ficar feliz em saber que podia ir para casa, na sexta à tarde, chorou e disse não querer isso.

A equipe médica suspeitou que ela estivesse sendo maltratada em casa, mas a verdade está longe disso. O choro foi de frustração, pois ela ainda não estava sentindo-se bem para sair do hospital. Ela vinha sofrendo crise asmática há 3 semanas e tudo o que faziam na cidade dela era colocá-la na máscara, aplicá-la injeção para abrir os alvéolos e mandá-la para casa. Não tratavam o problema. Contudo, no hospital daqui de Galway a médica trocou os 2 remédios que ela vinha tomando há 4 anos e ela melhorou.

Cerca de 3 horas da manhã de hoje recebi outra ligação da agência. Havia um bebê na Emergência. Felizmente eu estava acordada, pois seria duro, para mim, levantar no meio da noite para ir para o hospital. Além disso, o Pete foi comigo até lá. Eu já tinha acompanhado a mãe desse bebê nas consultas pré-natais.

O bebê tem quase 5 meses. Como ela não disse que tinha engravidado novamente deduzi que a barriga dela ainda não diminuiu. É interessante, pois a barriga dela está grande e dura (não que eu tenha tocado nela - isso seria inapropriado).

Enfim, ela começou a introduzir comida na alimentação do bebê, para poder voltar a trabalhar, mas o bebê vinha tendo reação alérgica desde ontem. A médica devia estar trabalhando há muitas horas, pois não conseguia anotar a sequência dos fatos direito: horário de cada alimentação, quanto tempo depois o bebê teve a reação alérgica, o que aconteceu durante a crise alérgica, quanto tempo durou, quanto tempo até a próxima crise e etc. E a mãe do bebê também não era precisa. Para piorar eu estava sem paciência. "Se você deu esse alimento e ele teve reação alérgica, não dê mais esse alimento". Isso era o que eu pensava, mas não disse nada.

Quando a médica disse que teria que tirar sangue do bêbe, para saber se ele era alérgico a alguma coisa, a mãe começou a chorar e dizer "Oh! Meus Deus! Vai doer. Tadinho do meu bebê" etc. Daí comecei a pensar "Se você o trouxe aqui significa que você quer que tratem ele, não é mesmo, então, pára de choramingar e deixe a médica fazer o trabalho dela", mas as mães são santas e sou profissional, então, isso não saiu do campo dos pensamentos.

A médica enfiou a agulha no pézinho dele duas vezes sem sucesso. Não desceu uma gota de sangue sequer. Ele chorou o tempo todo, é claro. Aí tudo bem, pode lamentar. É chato, mas ainda não é culpa da médica.

Fomos até o Departamento Pediátrico, longe da Emergência, e lá pesaram e examinaram o bebê antes de encaminharem ele e a mãe para um quarto, onde eles passariam a noite.

Depois eu tive que voltar sozinha para a Emergência. Na ida a mãe tinha dito que estava sentindo cheiro de defunto. É claro que lembrei disso na volta. O hospital estava DESERTO! Algumas portas não abriam, então, eu sabia que estava indo para o lado errado. De repente umas portas de madeira abriram sozinhas! Quanto olhei para cima eu li "Departamento Psiquiátrico". Eu tinha acabado de passar por ele! Credo. Parecia filme de terror. Só faltava algum paciente maluco resolver me perseguir (estou brincando, pelo amor de Deus, eu tenho muito respeito por essas pessoas até porque eu posso parar nesse departamento um dia).

Peguei meu formulário e voltei sozinha para casa. Não liguei para o Pete como combinado, pois o céu não estava mais escuro. Achei melhor poupá-lo. Hoje vi o quão cedo começa a clarear no verão: 4:15.

Às 10 da manhã acompanhei uma grávida que estavam induzindo o parto - tinha sido agendado na sexta. Não demorei nem 30 min. lá. Voltei para casa e dormi até o celular tocar novamente às 17:45. Sabia que era por causa dessa grávida. Desta vez ela estava na sala de parto.

Ela foi a grávida mais escandalosa que acompanhei. Quando a dor vinha ela "falava" "A dor, a dor, a dor, amor, faz massagem na minha barriga!!!!!!!!". Ela estava tão agitada que não queria usar mais a máscara com remédio que era justamente para reduzir a dor. A anestesista titubeou tanto, com medo de dar anestesia nela e ter alguma consequência grave, pois no arquivo dela dizia que ela tinha tido um problema sanguíneo pouco conhecido aqui, Chagas, que acabou que o bebê não esperou a peridural. Ela teve que empurrar apenas 2 vezes para o bebê nascer.

Esse bebê é o quarto filho dela, mas como o último foi há 19 anos ela parece ter esquecido a dor do parto. As meninas entre 16 e 20 e poucos anos são bem mais fáceis de lidar. A de hoje, com 37, chegou até a gritar na primeira empurrada. Entendo que ela não recebeu anestesia, mas mesmo assim, ninguém estava achando bonita a atitude descontrolada dela e a parteira disse para ela não gritar na segunda empurrada.

Assim, todo o trabalho realizado neste fim de semana envolveu bebês. É ótimo trabalhar no fim de semana, pois eles pagam mais pela hora, e não sou fã de domingos parados, mas percebi que quando o trabalho interfere na minha noite de sono eu fico bem sem paciência, o que não posso deixar transparecer em momento algum.

Thursday, May 22, 2008

Drama apocalíptico brasileiro!?



Foi isso o que escutei durante este vídeo, mas Blindness, que é a versão cinematográfica do livro Ensaio sobre a cegueira, do escritor português José Saramago, até onde eu sei, não fala sobre o Brasil, mas foi dirigido pelo Fernando Meirelles.

Pesquisando mais li que ele foi rodado nos arredores de Toronto e São Paulo. Então tá explicado!

Monday, May 19, 2008

O verão me pregou uma peça

O verão tem outro problema além de fazer calor, ele é traiçoeiro, pois te faz acreditar que você pode sair às ruas com menos roupa. Foi o que fiz no sábado à noite, quando fomos ao cinema. Talvez se tivessemos ido à tarde eu não teria tido problemas, mas o filme começava às 9h20 então voltamos para casa às 11h30.

Eu vestia apenas uma camiseta de manga comprida, um cardigã desabotoado e um cachecol com os pontos largos. Isso mesmo, fiquei doente mesmo usando um cachecol. O curioso é que eu era uma das pessoas usando mais roupas nas ruas.

Acredito que a tensão em tentar conseguir uma vaga no curso da FÁS contribuiu, pois quando me preocupo muito acabo ficando doente. O que mais tenho feito desde sábado é dormir.

Na segunda recebi uma carta da FÁS dizendo que não consegui uma vaga no curso. Eles não explicaram o porquê.

Consegui trabalhar ontem. Auxiliei uma moça que acredita que vai perder outro bebê. O primeiro aborto foi em fevereiro, mas felizmente ela tem um filho de 7 anos.

Na quinta volto a assistir as assistentes sociais no caso de tentativa de repatriação do brasileiro que caiu de um prédio de 3 andares. Da última vez que estive com elas liguei para o Hospital Sarah para perguntar sobre os requisitos para acomodarem pacientes no hospital. Felizmente consegui falar com a pessoa responsável e obter as informações. As assistentes sociais ficaram de enviar as informações médicas do paciente para o hospital em Brasília para então descobrirem se ele preenche os requisitos ou não.

Saturday, May 17, 2008

Jogos de Amor em Las Vegas


Alguém já viu este filme? Vamos assisti-lo daqui 2 horas. Acho que vai ser divertido. Há uma promoção o envolvendo. O prêmio é um fim de semana em Londres. Não custa nada tentar, né?

Vi que o filme "Once" (Apenas Uma Vez) está passando em Brasília. Imagino que esteja passando em outros estados também. Não deixe de vê-lo se gostar de boa música. Uma delas, "Falling Slowly", ganhou o Oscar de Melhor Música. De quebra vocês ainda verão um pouco de Dublin e a rua favorita minha e da Gina, a Grafton Street, onde o ator principal toca na abertura e durante o filme.

Academia de Tênis 3 - 18:10 19:50 21:30

Pós-filme: Ashton Kutcher é a versão masculina de Cameron Diaz. Esta foi a conclusão que cheguei após ver "O que acontece em Las Vegas". Ri bastante e saí leve do cinema. Recomendo!

Saturday, May 10, 2008

É 10.... de maio.

Clique na imagem para vê-la maior
Conforme previsto, os DVDs & CDs do Kit Joshua Tree Edição De Luxe da Cris chegaram em Dublin hoje - dia do aniversário do dublinense mais famoso da atualidade e que canta e nos encanta: Bono.


A primeira tentativa de envio, no começo do ano, foi frustrada porque a pessoa no correio de Galway não avisou que eu teria que preencher um adesivo, menor que a palma da minha minha mão, especificando o conteúdo. Como fazia quase 8 anos desde que enviei algo da Irlanda eu havia esquecido dele, mas confesso que não sabia da sua importância!


Agora é acompanhar a trajetória do tão aguardado e viajado kit da Cris. Ele já foi e voltou da Irlanda uma vez, depois de fazer o trecho Inglaterra-Irlanda, pois ele originariamente saiu da loja da HMV no Reino Unido.


Dentro de algumas horas o meu irmão mais velho contrairá núpcias em Brasília. Gostaria de vê-lo entrando na igreja e dizendo os votos durante a troca das alianças. Pedi para o Jão filmar esses momentos, mas como ele será um dos padrinhos acredito que isso não será possível. O Cut já tinha dito que tiraria fotos exclusivas para mim. :)

Wednesday, May 07, 2008

Brigit's Gardens



O amigo do Pete nos trouxe em casa depois do passeio em Brigit's Gardens. Quando chegamos no prédio demos com a carta da FAS com o resultado do teste. Para nossa grande felicidade, eu passei. Li a carta em voz alta para o Pete e o amigo e depois fiz frango assado para retribuir a carona, já que ele mora a 40 minutos daqui. O Pete fez um molho bem gostoso para acompanhar o frango e o arroz e esquentou umas tortilhas para servir como acompanhamento também.


Agora tenho a entrevista no dia 12 ou 13 maio. Tenho que ligar no dia 8 entre as 10:30 e 12:30 para saber o dia e horário exatos. Dia 13 de maio é aniversário do Pete.


A temperatura subiu bastante estes últimos dias, chegando a 20o C durante o dia, o que tem tornado a vivência em Galway ainda melhor. As pessoas nas ruas têm vestido roupas bem mais leves e coloridas e o astral da cidade está diferente, mas espero que não esquente muito mais.

Saturday, May 03, 2008

A busca da felicidade

Nos últimos anos, cada vez mais pesquisadores têm tentado descobrir o que faz as pessoas felizes. Veja como essas pesquisas podem melhorar sua vida.

Felicidade é um truque. Um truque da natureza concebido ao longo de milhões de anos com uma só finalidade: enganar você. A lógica é a seguinte: quando fazemos algo que aumenta nossas chances de sobreviver ou de procriar, nos sentimos muito bem. Tão bem que vamos querer repetir a experiência muitas e muitas vezes. E essa nossa perseguição incessante de coisas que nos deixem felizes acaba aumentando as chances de transmitirmos nossos genes. "As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo", escreveu o escritor e psicólogo americano Robert Wright, num artigo para a revista americana Time.

A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade - é ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar dinheiro, gastar dinheiro, fazer amigos, brigar, casar, separar, ter filhos e depois protegê-los. Ela nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e nos dá disposição para lutar por elas. Mas tudo isso é ilusão. A cada vitória surge uma nova necessidade. Felicidade é uma cenoura pendurada numa vara de pescar amarrada no nosso corpo. Às vezes, com muito esforço, conseguimos dar uma mordidinha. Mas a cenoura continua lá adiante, apetitosa, nos empurrando para a frente. Felicidade é um truque.

E temos levado esse truque muito a sério. Vivemos uma época em que ser feliz é uma obrigação - as pessoas tristes são indesejadas, vistas como fracassadas completas. A doença do momento é a depressão. "A depressão é o mal de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço", afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua. Muitos de nós estão fazendo força demais para demonstrar felicidade aos outros - e sofrendo por dentro por causa disso. Felicidade está virando um peso: uma fonte terrível de ansiedade.

Esse assunto sempre foi desprezado pelos cientistas. Mas, na última década, um número cada vez maior deles, alguns influenciados pelas idéias de religiosos e filósofos, tem se esforçado para decifrar os segredos da felicidade. A idéia é finalmente desmascarar esse truque da natureza. Entender o que nos torna mais ou menos felizes e qual é a forma ideal de lidar com a ansiedade que essa busca infinita causa. Veja nas próximas páginas o que eles já descobriram.


Três caminhos

Um dos motivos pelos quais a felicidade é tão difícil de alcançar é que nem sabemos bem o que ela é (veja algumas tentativas de defini-la no quadro da página 52). Daí a importância das pesquisas do psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia. Seligman concluiu que felicidade é na verdade a soma de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado.

Prazer você sabe o que é. Trata-se daquela sensação que costuma tomar nossos corpos quando dançamos uma música boa, ouvimos uma piada engraçada, conversamos com um bom amigo, fazemos sexo ou comemos chocolate. Um jeito fácil de reconhecer se alguém está tendo prazer é procurar em seu rosto por um sorriso e por olhos brilhantes. Já engajamento é a profundidade de envolvimento entre a pessoa e sua vida. Um sujeito engajado é aquele que está absorvido pelo que faz, que participa ativamente da vida. E, finalmente, significado é a sensação de que nossa vida faz parte de algo maior.

A vantagem de dividir a felicidade em três é que assim fica mais fácil definirmos nossos objetivos. "Buscar a felicidade" é uma meta meio vaga, fica difícil até de saber por onde começar. Mas, se você se conscientizar de que basta juntar essas três coisas - prazer, engajamento e significado - para a felicidade vir de brinde, a tarefa torna-se menos penosa. Seligman acha que um dos maiores erros das sociedades ocidentais contemporâneas é concentrar a busca da felicidade em apenas um dos três pilares, esquecendo os outros. E geralmente escolhemos justo o mais fraquinho deles: o prazer. "Engajamento e significado são muito mais importantes", disse ele numa entrevista à Time. Como então alcançá-los? (Veja algumas dicas práticas para ser feliz, no quadro à direita.)

Comecemos pelo engajamento. Algumas pessoas são capazes de se engajar em tudo: entram de cabeça nos romances, doam-se ao trabalho, dão tudo de si a todo momento. Isso é raro e nem sempre é bom (inclusive porque gente engajada demais tende a negligenciar outros aspectos da vida, em especial o prazer). Ninguém precisa ir tão longe, mas o esforço de estar atento ao mundo, participando da vida, vale a pena.

Mihaly Csikszentmihalyi (pronuncie "txicsentmirrái"), pesquisador da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, estuda um fenômeno cerebral chamado "fluxo", que ocorre quando o engajamento numa atividade torna-se tão intenso que dá aquela sensação boa de estar completamente absorto, a ponto de esquecer do mundo e perder a noção do tempo. Ou seja, é um estado de alegria quase perfeita. Esse fenômeno acontece com monges em estado de meditação, mas também em situações muito mais comuns, como ao tocar um instrumento, andar de bicicleta ou até mesmo ao consertar a estante da casa. Um outro pesquisador, o americano Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, observou em laboratório que as pessoas em estado de fluxo ativam uma região do cérebro chamada córtex pré-frontal esquerdo, o que pode ter uma série de efeitos no organismo, inclusive um melhor funcionamento do sistema imunológico. Ao longo de um estudo realizado na Holanda, pessoas que entraram em fluxo tiveram seu risco de morte reduzido em 50%, por reagirem melhor a doenças.

E como se entra no tal fluxo? Csikszentmihalyi afirma que o segredo é buscar atividades nas quais se possa usar todo o seu talento. Tem de ser um desafio não muito fácil a ponto de ser entediante, nem tão difícil que se torne frustrante. Procurar experiências desse tipo é recompensador e traz níveis bem altos de felicidade. Claro que infelizmente nem todo mundo tem a sorte de encontrar desafios assim no trabalho. Nesse caso, um hobby pode ajudar na busca por engajamento e por momentos de fluxo - pode tanto ser uma atividade manual ou intelectual quanto um esporte.

Quanto ao terceiro pilar da felicidade, o significado, o jeito tradicional de conquistá-lo é via religião. Há milênios, a humanidade encontra alento na crença de que cada um de nós faz parte de uma ordem maior. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, na média, mais felizes que as não-religiosas - elas também têm menos depressão, menos ansiedade e suicidam-se menos. A crença de que Deus está nos observando, nas palavras do psicólogo e estudioso da religião Michael McCullough, da Universidade de Miami, é uma espécie de "equivalente em grande escala do pensamento 'se eu não conseguir pagar o aluguel, meu pai vai ajudar'". Ou seja, é um conforto, uma garantia de que, no final, as injustiças serão corrigidas e nossos esforços, reconhecidos.

Mas a religião não é a única forma de dar significado à vida. Um truque eficaz para ficar mais feliz é fazer o bem para os outros - visitar um orfanato, ajudar uma criança a fazer a lição de casa, dar um presente útil. E isso não é conversa mole. Seligman mediu em laboratório os efeitos do altruísmo e percebeu que um único ato de bondade pode melhorar efetivamente os níveis de felicidade de uma pessoa por até dois meses. Cinco atos de bondade por semana turbinaram sensivelmente o astral dos cobaias - e, quando todos os cinco foram realizados num mesmo dia, o benefício foi ainda maior. Também se alcança significado construindo algo que pode sobreviver a você. O exemplo clássico é criar filhos. Uma outra dica é acreditar que sua vida é importante para alguma grande causa: a história, a ciência, a justiça social, a democracia, a liberdade, o progresso, a natureza. Ou seja, é útil crer em algo, mesmo que não seja em Deus.

Para terminar, há uma regra da qual especialista nenhum discorda: ter amigos (e nem precisam ser muitos) ajuda a ser feliz. Amigos contam pontos nos três critérios: trazem, ao mesmo tempo, prazer, engajamento e significado para nossas vidas.


Ser infeliz é preciso

Ok, já temos a receita da felicidade. Basta juntar prazer, engajamento e significado e nossa vida se resolve para sempre? Ah, se fosse assim tão simples. A felicidade, como não cansam de repetir os poetas e os chatos, é breve. Ainda bem. Felicidade, por definição, é um estado no qual não temos vontade de mudar nada. Ou seja, se passássemos tempo demais assim, nossas vidas estacionariam. A busca da felicidade é o que nos empurra para a frente - se agarramos a cenoura, paramos de correr e a brincadeira perde completamente a graça. Portanto, um pouco de ansiedade, de insatisfação, é perfeitamente saudável.

"Felicidade é projetada para evaporar", escreveu Robert Wright. E, segundo ele, há uma razão evolutiva para isso também: "se a alegria que vem após o sexo não acabasse nunca, então os animais copulariam apenas uma vez na vida". Mora aí um dos grandes problemas atuais. Muita gente acredita que é possível viver uma existência só de altos, sem nenhum ponto baixo, sem tristeza, sem sofrimento. E alguns estão dispostos a conseguir isso sem esforço algum, só à custa de antidepressivos.

Isso é conversa de cientista, mas alguns religiosos, em especial os budistas, já afirmam algo parecido há muito tempo. Um de seus preceitos básicos é o de que "a vida é sofrimento". Coisa chata, né? Talvez, mas ter consciência de que o sofrimento é inevitável pode ajudar a trazer felicidade, e certamente diminui a ansiedade. O conselho do dalai-lama é que, quando as coisas estiverem mal, em vez de se entregar à infelicidade ou tentar apenas minimizar os sintomas, você respire fundo e tente descobrir o porquê da situação.

Segundo ele, grande parte da dor é criada por nós mesmos, pela nossa inabilidade de lidar com a tristeza e pela sensação de que somos obrigados a ser sempre felizes. Ao encarar o sofrimento de frente e identificar as suas causas reais, você estará dando um passo na direção do autoconhecimento, o que vai lhe permitir entender quais seus objetivos na vida, quais seus valores. Para usar a terminologia de Seligman, esse autoconhecimento dará a você mais clareza sobre que tipo de atividades lhe traz prazer, engajamento e significado. Ou seja, são esses momentos ruins que criarão condições para você correr atrás da sua própria realização - individual, pessoal e intransferível.


Cada um é cada um

É aí que está o pulo-do-gato. Não existe uma fórmula da felicidade que funcione com todo mundo - é justamente nisso que os livros de auto-ajuda costumam falhar. Cada pessoa é diferente e reage à vida de modo diferente. Foi essa a conclusão do estudo realizado em 1996 pelo pesquisador David Lykken, da Universidade de Minnesota. Ele comparou dados sobre 4 000 pares de gêmeos idênticos e percebeu que, na maioria dos casos, quando um tem tendência a ver o mundo de modo otimista, o outro tem também - e quando um é pessimista o outro é igual. Ou seja, existe um forte componente genético na nossa tendência a ser feliz. Não que isso seja uma grande surpresa. Qualquer pai ou mãe sabe que algumas crianças nascem com vocação para o sorriso, enquanto outras são simplesmente muito mais difíceis de agradar.

Nas últimas décadas, apareceram muitas evidências de que nós tendemos a manter um "nível de felicidade" constante ao longo de nossas vidas - e nem mesmo grandes acontecimentos parecem capazes de alterar bruscamente esse nível. Um exemplo disso é a pesquisa conduzida pelo psicólogo Richard Lucas, da Universidade do Estado de Michigan, Estados Unidos. Lucas passou 15 anos entrevistando solteiros e casados na Alemanha e pedindo que eles dessem notas de 0 a 10 para seu estado de felicidade. Os solteiros tinham média 7,28. No momento em que eles casavam, o valor aumentava muito: para perto de 8,5. Mas dois anos depois a média já era de exatamente 7,28 outra vez. Ou seja, a longo prazo, o casamento parece não mudar - para melhor ou para pior - o nível de felicidade.

O mesmo vale para outros acontecimentos radicalmente transformadores - para o bem ou para o mal. Um estudo com ganhadores da loteria realizado em 1978 mostrou que esses felizardos têm picos de felicidade logo após o prêmio, mas tendem a voltar aos níveis anteriores alguns meses depois. Algo equivalente parece acontecer com pessoas que ficam paraplégicas em acidentes. Elas passam por um período de infelicidade, mas dois meses depois recuperam níveis quase tão altos quanto os anteriores ao acidente.

Esse acúmulo de dados levou alguns especialistas a afirmarem que a felicidade é algo imutável. Oito anos atrás, o pesquisador Lykken criou polêmica ao afirmar publicamente que "parece que tentar se tornar mais feliz é tão fútil quanto tentar se tornar mais alto". Hoje até ele próprio reconhece que essa afirmação foi, no mínimo, exagerada. Parece que uma analogia melhor para a felicidade é compará-la com o peso. Cada um de nós tem um biotipo diferente - uma tendência para ser mais ou menos gordo. Mas é claro que os nossos hábitos e a nossa postura têm uma grande influência sobre o número que aparece na balança. É a mesma coisa com a felicidade: temos uma tendência natural para um certo nível. Mas fazer regime funciona.

Uma questão de desejo

Um exemplo do quanto podemos alterar nossa predisposição genética para a felicidade é a forma como lidamos com nossos desejos. Existem duas maneiras de alcançar a felicidade: possuindo mais ou desejando menos. Se a felicidade é a cenoura, a vara na qual ela está pendurada é o que chamamos de desejo. E estamos fazendo varas cada vez mais compridas.

Veja o caso dos países ricos. "Nos Estados Unidos e na Europa, há uma sensação de desapontamento, pois se está percebendo que existe um limite para a satisfação que a sociedade e os bens materiais trazem", diz o economista e filósofo Eduardo Giannetti, autor do ótimo livro Felicidade. Nos Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial, todos os indicadores econômicos e sociais melhoraram sem parar. A renda triplicou, o tamanho das casas dobrou e o acesso aos bens materiais cresceu tanto, que hoje há mais carros nas garagens do que habitantes no país. Ainda assim, o índice nacional de felicidade não cresceu um milímetro sequer. O Centro de Pesquisas de Opinião Nacional dos Estados Unidos entrevista periodicamente os americanos desde os anos 50 - e o resultado é invariavelmente o mesmo (um terço deles se considera "muito feliz").

Há uma razão para isso: os americanos querem cada vez mais. Seus desejos não páram de crescer. Ou seja, a cenoura está cada vez mais apetitosa, mas também mais distante. Demandas crescentes são a condição essencial para manter a economia funcionando. A lógica do capitalismo é criar necessidades, para então satisfazê-las - não por acaso, esse país de insatisfeitos é o mais rico do mundo. Precisamos das coisas a partir do momento em que elas estão disponíveis e isso vale tanto para produtos quando para idéias. Quando vemos pessoas lindas, maquiadas e malhadas nas capas das revistas, e aparelhos de som inacreditáveis nos anúncios, fica difícil nos satisfazer com nosso visual comum e com o walkman velho mas honesto. Acontece que a felicidade não está diretamente ligada aos bens materiais. Ed Diener, da Universidade de Illinois, estudioso do assunto há 25 anos, avaliou o nível de felicidade das 400 pessoas mais ricas do mundo segundo a revista Forbes, e concluiu que elas estão rigorosamente empatadas com os pastores maasai da África.

Para complicar, temos cada vez mais opções. Na época em que a prateleira da farmácia abrigava apenas xampu para cabelos secos, normais ou oleosos, era fácil escolher um e ir para casa tranqüilo. Mas, quando na sua frente se enfileiram xampus de todas as procedências e preços, para cabelos ondulados, escuros, danificados, mistos, com pontas duplas, tingidos ou fracos, você não tem mais tanta segurança de que sua escolha foi a melhor. O mesmo acontece na hora de comprar um carro, creme dental ou comida congelada. Ou no momento de escolher um namorado ou uma profissão. "Muita gente fica simplesmente paralisada com tantas opções", diz o psicólogo americano Barry Schwartz em seu livro, The Paradox of Choice ("O Paradoxo da Escolha", não lançado no Brasil). Está aí uma fonte de frustração e ansiedade.

Em 2000, Sheena Iyengar e Mark Lepper, das Universidades de Columbia e Stanford, montaram em uma loja dois estandes com amostras de geléia, um com 24 opções de sabor e outro com apenas seis. O número de clientes que comprou o produto foi dez vezes maior no estande menos variado, ainda que o outro tenha atraído 50% mais gente. Por que isso acontece? Schwartz sugere que nessas situações as pessoas avaliam intuitivamente os "custos de oportunidade": uma escolha implica abrir mão de todas as outras opções. Quando há centenas de possibilidades, escolher uma só significa "perder" muito mais. E, no mundo de hoje, em que cada um tem acesso ao mundo inteiro pela internet e quase não há limites para os nossos desejos, parece inevitável ficar ansioso - e infeliz - com tudo isso.

Pesquisando o assunto, o psicólogo encontrou padrões de comportamento que permitem dividir as pessoas em dois grupos: as que procuram fazer escolhas apenas satisfatórias, sem tentar alcançar a perfeição, e as que não sossegam até que encontrem "a melhor opção de todas". As pessoas do segundo grupo costumam fazer escolhas melhores, é claro. Mas as do primeiro ficam mais felizes com suas decisões. "A solução é diminuir o número de opções ou melhorar nossa maneira de fazer escolhas", diz Schwartz.

Então tá. Mas será que sabemos fazer as melhores escolhas para nossa vida? Segundo os pesquisadores Daniel Gilbert, Tim Wilson, George Loewenstein e Daniel Kahneman, a resposta é não. Decisões são tomadas tendo como base nossa previsão de como cada opção vai afetar nossas vidas. Porém, segundo eles, temos uma dificuldade enorme para avaliar o quanto um acontecimento vai nos deixar felizes ou infelizes.

Nós superestimamos a intensidade e a duração das nossas reações emocionais, ao mesmo tempo que subestimamos nossa capacidade de adaptação. Lembra da história dos ganhadores da loteria e acidentados paraplégicos que logo voltam ao nível normal de felicidade? Pois então: somos capazes de nos acostumar com quase tudo. Damos importância demais a escolhas que não são tão definitivas assim e esquecemos que uma decisão "errada" não é o fim do mundo. É uma questão de colocar limites nos nossos desejos. Em outras palavras, ser feliz é muito mais simples do que se pensa.

Simples? Então explique

Tem uma idéia central: não leve tudo tão a sério. "Leveza" é a palavra-chave. Não quer dizer que todos devamos instalar um sorriso permanente no rosto e começar a achar bom tudo o que acontece. Leveza significa entender que até as melhores sensações têm fim, assim como não há aborrecimento que dure para sempre. Não é para se tornar um bobo-alegre: às vezes as circunstâncias nos obrigam a reagir de jeito negativo, e isso não é necessariamente ruim.

Gianetti chama atenção para a diferença entre "ser feliz" e "estar feliz". "Existem pessoas que levam uma vida cheia de momentos de prazer, mas que não têm um caminho ou um significado. No extremo contrário estão aqueles que abrem mão do 'estar feliz' por só pensar no futuro e viver com prudência demais". Talvez o melhor caminho esteja entre esses dois. Atingir esse equilíbrio não é moleza e infelizmente não há fórmula mágica nem manual completo. O lance é prestar atenção a si mesmo e ir mudando aos pouquinhos. "As transformações mentais demoram e não são fáceis. Demandam um esforço constante", aconselha o dalai.

Felicidade não é um fim em si, e sim uma conseqüência do jeito que você leva a vida. As pessoas que procuram receitas e respostas complicadas para ela acabam perdendo de vista os pequenos prazeres e alegrias. É o dia-a-dia de uma pessoa e a maneira como ela reage às situações mais banais que definem seu nível de felicidade. Ou, para resumir tudo: um jeito garantido de ser feliz é se preocupando menos em ser feliz.

Quando souber o nome do(a) autor(a) deste texto eu o colocarei aqui.