Apesar de um dia já ter tido 15 anos, incorporei os sentimentos da mãe dela, que ¨congelou¨ de medo ao imaginar o que acontecera com a filha e o marido naquele quartel malígno, enquanto imaginei minha sobrinha no lugar de Eliana Paiva, que à princípio foi poupada pela própria inocência. Dificilmente senti sequer um terço do que essa família passou durante a prisão.
Nenhuma pessoa próxima à mim ou minha família foi diretamente afetada pelo regime militar. Todavia, solidarizo com a dor de Eliana e de todas as famílias na mesma situação dela.
Para cada preso e torturado havia uma série de pessoas envolvidas que guardam segredos. Aquelas vivas deveriam ser levadas à Justiça para falarem tudo o que sabem e serem punidas na medida do possível. Clique aqui para ver a lista de cassados, exilados, presos, sequestrados, torturados ou mortos durante o regime militar.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Lei 9140/95 que reconheceu os abusos ocorridos e fixou indenização mínima de R$ 100.000,00 para cônjuges e parentes. Contudo, para termos um futuro próspero precisamos limpar o nosso passado. É chegada a hora do nosso governo começar a apurar o desaparecimento dos presos e torturados durante o regime militar.
Mais de 280 pessoas foram mortas, muitas sob tortura. Mais de 100 desapareceram, mas ninguém acusado de torturar presos políticos chegou a ser punido. Em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia, que determinou que todos os envolvidos em crimes políticos fossem perdoados pela Justiça. Contudo, pelo entendimento da ONU, cujos vários documentos tem a assinatura do Brasil, o crime de tortura é imprescritível. Nunca é tarde para reconhecer direitos humanos.
Matéria relacionada: Ação sobre desaparecidos reabre debate sobre anistia (Diário do Congresso)
Edição 11.05.12: Artigos sobre a Comissão da Verdade no blog Com Texto.
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