Wednesday, November 09, 2011

A licença que mata


Já percebeu como as pessoas mais próximas ou que mais amamos são justamente aquelas que mais nos magoam às vezes? Elas nos conhecem melhor que ninguém e sabem justamente o que nos machuca, no entanto...

É que algumas pessoas acreditam que devem usar a sua licença para dizer ¨a verdade¨ para o ¨nosso bem¨. 

Deixe-me explicar a questão da licença. O Pete, por exemplo, dava um tapinha no meu bumbum e dizia que tinha uma licença para isso e mostrava a aliança de casamento dele. Apesar disso não me incomodar em casa, quando ele o fazia na rua eu não gostava. Expliquei porque e ele parou. Dentro de casa a questão da licença virou brincadeira.

Essa é a única licença que o Pete usa no nosso casamento. Obviamente já discutimos e ambos já dissemos coisas que não diríamos com a cabeça fria, mas em situações normais de pressão e temperatura ele não usa a ¨licença de marido¨ para falar ¨verdades¨ sobre mim.

Uso a palavra ¨verdade¨ ironicamente, pois essa é a justificativa utilizada pelos donos da verdade. Eles usam o argumento de querer o nosso bem ou de estarem apenas sugerindo algo para dizer coisas desagradáveis sob a justificativa do laço que nos une, seja familiar, seja fraternal, seja hierárquico. 

O interessante é que sugestão é dada uma vez só, mas os donos da verdade e de todo o conhecimento conseguem sugerir a mesma coisa várias vezes sem perceber que essas sugestões são muitas vezes críticas indiretas que tem o objetivo, seja consciente ou insconciente, de minar a auto-confiança do outro. Muitas vezes a tal verdade inclusive entra no esfera do abuso psicológico. E dizer que é para o bem da pessoa não ameniza o abuso.

Assim, se você acha que tem uma licença para dizer o que realmente acha de alguém próximo à você ou o que alguém que tem que fazer para ser feliz dentro dos SEUS parâmetros, pense novamente, pois essa licença pode matar o seu relacionamento. 

E na melhor das hipóteses, se não mata de imediato, fere e de ferimento em ferimento o seu relacionamento poderá morrer a longo prazo, só restando uma cordialidade da outra parte e apenas da outra parte é claro, pois você já provou que desconhece o termo cordialidade com as suas verdades que 'precisam' ser ditas.