Monday, September 05, 2011

O boom brasileiro também vai acabar


Assim como o crescimento econômico na Irlanda teve fim, o brasileiro também o terá. É o rumo natural das coisas. Afinal, nada fica como está. Ainda mais quando as pessoas tem mais dinheiro no bolso. 

Talvez quem está no Brasil não percebe que o país está passando por um boom, mas de fora, está claro que sim. Embora seja um boom de país em desenvolvimento, pois ainda há pobreza, as baixas camadas sociais tiveram melhoria de vida. 

Basta perguntar à quem contrata empregada doméstica. Se elas não foram as mais beneficiadas com o aumento do salário mínimo, então, não sei quem foi, pois elas estão em extinção, assim como as babás. É o que escuto daqui.

Agora essas mulheres podem galgar melhores empregos, seja porque tem condição de estudar seja porque agora interessa ao governo promover cursos gratuitos para prepará-las para atender as necessidades dos turistas durante a Copa e as Olimpíadas. 

Aliás, se a escolha do Brasil como sede desses eventos esportivos não é uma das provas que o Brasil está passando por um boom, eu diria que a indústria cinematográfica brasileira o é, pois nunca se produziu tantos filmes nacionais no nosso país. 

O dinheiro está rolando e não apenas para dentro das cuecas dos políticos não. Está patrocinando o esporte e atraindo celebridades estrangeiras como abelha no mel. Sim, pois agora vale a pena custear a ida das maiores estrelas de Hollywood para o Brasil. Os brasileiros tem dinheiro para ir ao cimena, mesmo os ingressos custando o dobro do que deveria por causa da bendita carteira estudantil que até um idoso com aposentadoria gorda consegue, se quiser.

Nem todas as pessoas perdem a cabeça e saem assumindo compromissos financeiros além de suas capacidades, tais como a compra de um imóvel, quando não tem estabilidade financeira. Como comentei no post entendendo a crise na Irlanda foi isso que levou muitos à ruina aqui. 

Obviamente se o governo fali há uma série de implicações que afetam até os mais comedidos, como a falta de emprego. Contudo, estar desempregado e sem débito é bem menos pior que estar desempregado e com débito - e o pior, com a hipoteca da casa prestes a ir pro brejo. Por sinal, essa é uma das complicações mais sérias da recessão irlandesa no que refere-se à população. Para o governo certamente são seus bancos.

O site de notícias G1 tem publicado uma série de artigos sobre as finanças dos brasileiros. Há gente com posse de sete cartões de crédito. Um casal contraiu uma dívida de mais de cem mil reais ao administrar vinte e seis!

Se você assisti a Globo do Rio ou de São Paulo constata que há instituições financeiras oferecendo crédito a torto e a direita, outra armadilha em que muitos irlandeses caíram. Eles ganhavam bem, trocavam de emprego facilmente e nunca imaginaram que seus empregadores fechariam as portas, os impossibilitando de pagar os débitos adquiridos para manter o alto padrão de vida adquirido durante o boom irlandês. 

No Brasil ainda não se troca de emprego facilmente, pois na verdade não há emprego para todos ou gente capacitada para algumas vagas especializadas, como nas áreas de engenharia petrolífera ou relacionada ao pré-sal. Entretanto, já se sabe que a média de espera para se conseguir um novo emprego é 2 meses. São 4 meses a menos que antes. Olha o boom aí...

No post Brasília é cara pra dedeu falei dos preços ridiculamente altos que encontrei lá no ano passado. No domingo li que os pais tem que pagar mil reais por uma créche na capital. Na verdade, é uma média de preços, pois familiares me contaram que  gastam mais do que isso.

É um custo de vida europeu com salários brasileiros. É como se todos estivessem gastando o dobro do que deveriam, tendo em vista que a nossa moeda vale metade do Euro. Tudo está super inflacionado.

Por isso os concursos públicos são os salva-vidas de muitos. Não há opção de estilo de vida. Todo mundo tem que trabalhar tempo integral para sobreviver. Para contar com o Estado você tem que estar abaixo da linha da pobreza, na miséria mesmo. Mesmo assim muitos céticos contestam os benefícios sociais no Brasil. 

O problema não está na sua concessão, mas na inércia do governo quanto a melhorar a educação. Sem melhorar a educação pública os jovens morrem na praia quando terminam o ensino médio, pois não tem como pagar uma faculdade particular. Morrem na praia ou já começam suas carreiras endividados tendo que pagar o financiamento da faculdade, pois como sabemos as universidades públicas são tomadas pelos jovens saídos das escolas particulares.

Ao final das contas, quem tiver mantido a cabeça financeira no lugar se salvará, os demais não, mas quem busca educação deveria ser poupado.