Friday, August 31, 2007

De lenta à precisa

Já me disseram que sou lenta na cozinha. Minha especialidade é comer não preparar comida, então, quando encontro uma alma caridosa que está disposta a dividir as tarefas na hora da refeição principal, que aqui é à noite, eu, obviamente fico com a lavagem de louças.

Realmente eu gosto de caprichar quando me proponho a fazer algo, principalmente algo doméstico que deixará a casa (ou louças) com um aspecto melhor. A questão é que quando comparada a eles, europeus, eu sou efetiva. Como toda brasileira quero a minha casa e tudo dentro dela limpa. Ok, sou desorganizada, mas desorganização é uma coisa, sujeira é outra.

Não sei se eles acham que é perda de tempo lavar adequadamente algo que estará sujo de novo dentro de tão pouco espaço de tempo, mas a verdade é que seja do sul ou do norte ou do oeste da Europa (nunca dividi casa com ninguém do leste europeu) eles não ligam para uma panela totalmente limpa, por exemplo. A sujeira do lado de fora da panela, especialmente, da sua base, vai acumulando até sei lá o quê acontecer! Talvez até uma brasileira querer ariá-la, mas se dependerem desta brasileira que vos fala, eles podem esperar deitados! I know better now!

Não podemos generalizar todo um povo baseado num único cidadão...

... ou deveria dizer "cidadã"? É muito provável que você saiba de mi desamor por uma certa espanhola que vivia na mesma casa que eu em Dublin em 2000/2001. Desde então eu relutava em acreditar nas semelhanças entre nós brasileiros e os espanhóis, mas não é que estou mudando de idéia?

No vôo Rio-Madri, na última sexta, Xavier León, um barcelonês, sentou-se ao lado do brasileiro que nos separava. Eles se engajaram numa conversa que não acabava mais mesmo quando todos já dormiam. Quando meu sono passou e acordei, percebi que Xavier havia cedido seu assento para o brasileiro, que devia medir, no mínimo, 1,90 cm, e estava prensado entre nós dois - diga-se de passagem, esse alto rapaz brasileiro é jogador de vôlei em Portugal - então Xavier estava ao meu lado agora.

Os dois lanchavam em meio a um papo tão descontraído que resolvi juntar-me a eles. No final do vôo, a aeromoça menos antipática - as aeromoças da Ibéria davam um ar de impaciência quando você pedia algo a elas - não aguentou e disse que Xavier deveria receber por entreter os passageiros. Naquela altura do campeonato, quando ele já tinha me ajudado com a pronúncia de algumas palavras em Espanhol, me feito rir muito por ter acreditado que eu era inglesa por conta do meu sotaque (falando Espanhol), me dito onde conseguir os biscoitos, oferecido nos mostrar Barcelona no futuro e me passado seu MSN, eu mesma não poupei elogio. Disse que ele era o espanhol mais agradável de toda a Espanha! Passada uma hora nos esbarramos dentro do aeroporto, embaixo do painel de vôos, e ele ainda veio até mim, disse que estava com pressa, me deu um amistoso beijo na bochecha e partiu.

Como se isso não fosse suficiente para eu reavaliar o meu conceito sobre os espanhóis, o pai de um dos rapazes que mora na mesma casa que eu disse que eu sou como uma deles, de Valência, que ao contrário da maioria daqui, gosto da família, me convidou para visitá-los e ainda explicou que assim como ele reconheceu uma pessoa do povoado dele que retornou da Suíça 40 anos depois, ele também lembrará de mim quando me vir novamente.