Friday, December 02, 2011

Contando com a bondade irlandesa


Foi quase tudo perfeito. Separei minhas roupas na noite anterior, acordei mais cedo para não sair correndo apressada - coisas novas para mim - e cheguei para o trabalho de hoje trinta minutos mais cedo para me ambientar no tribunal porque não pisava lá há algum tempo. 

Todavia na hora de prender a bicicleta me dei conta que não havia colocado a tranca na bolsa que resolvi usar hoje. Não podia contar com o Pete, pois ele estava cuidando da nossa fofucha. Também não podia deixar a bicicleta no bike rank livre, leve e solta.

A primeira idéia que me veio a cabeça foi deixar na casa de alguém perto do tribunal. Mas quem? Imaginei que uma alma caridosa não se importaria em guardar minha bicicleta em sua casa por algumas horas, mas daí a tocar na campaínha de um desconhecido... isso soaria estranho até para as pessoas mais caridosas.

Pensei que se talvez a deixasse no bike rank de fora do tribunal ninguém teria a cara de pau de furtar bem na porta de onde poderia responder na justiça pelo feito, mas logo percebi que estava sendo muito otimista!

Liguei para o Pete que me lembrou que há uma loja de bicicletas perto do tribunal, então, lá fui eu bem aliviada comprar um novo cadeado. Entretanto, chegando lá dei com a loja fechadinha. Fui à loja ao lado, uma loja de lápides, e perguntei ao senhor se a loja do lado dele era de bicicletas. Ser estrangeira tem suas vantagens: você pergunta o óbvio e ninguém te olha torto.

O senhor disse que sim, mas que ela só abriria após às 10:00, quando eu já deveria estar no tribunal. Expliquei a ele que tinha um trabalho lá começando em breve e perguntei se ele poderia guardar minha bicicleta na loja dele. Ele esticou os braços prontamente e a foi levando para dentro. Disse meu nome e o perguntei se ele não se incomodava em me dizer o dele. Ele disse ¨Brian¨.

Pois então disse a verdade ao Brian: que eu sabia que podia contar com a bondade irlandesa. Ele disse ¨Como?¨. Eu disse ¨Sabia que podia contar com um coração generoso¨. Ele sorriu. Eu fiquei feliz, pois os irlandeses não sorriem tão fácil quanto nós brasileiros.